NEM SABIA COMO FAZER...APENAS QUE ERA BOM!
São Paulo, 1954, época de inverno! Em Janeiro havíamos comemorado o 4º centenário da cidade, o Parque do Ibirapuera (atrás de minha casa), fora inaugurado e agora atravessávamos um inverno com temperaturas em torno de 8° graus, a cidade em seu movimento constante, caminha para mais um entardecer de garoa (comum naqueles anos), estou de bicicleta pelo quintal de minha casa, que na verdade trata-se de três terrenos interligados(enormes, o último suficiente para jogarmos bola, com dois times de cinco para cada lado!). Família tradicional, os meus dias são escola pela manhã, música e tarefas pela tarde e depois brincadeiras, com meu irmão e vizinhos. Hoje estou só, o mano mais velho foi para a fazenda, eu não queria ir, resolvi passar aqueles dias na minha casa! Naquele tempo São Paulo, já apresentava pujança, mas não o crescimento desenfreado de hoje. Era delicioso, passear pela cidade, mesmo a família possuindo dois veículos, eu adorava passear de ónibus da CMTC e sentar no banco da frente junto ao motorista e auxilia-lo na condução daquele monstro de ferro e aço(Meu pai dizia que eu tinha espírito suburbano), quem conheceu a cidade destes tempos sabe do que estou falando, todas as ruas e avenidas da cidade eram floridas e arborizadas, o calçamento todo ele de paralêlepipedos, que escorregavam uma barbaridade na hora da garoa, seus grandes prédios eram o Martinelle, o da Caixa Económica Estadual e do Banespa(Banco do Estado de São Paulo, claro que tínhamos outros prédios, porém os mais altos eram esses, o Vale do Anhangabau com o Viaduto do Chá e suas passagens, Av. São João, rua da Consolação, Av. Paulista enfim arquiteturas maravilhosas clássicas e outras já acompanhando o modernismo, um de meus passeios favoritos era subir a Brigadeiro Luiz António onde morava e seguir até a Praça Osvaldo Cruz e aí, retornar, para casa descendo pela Rua Padre Manoel da Nóbrega, isso quando papai estava viajando, pois se ele me pegasse nesta aventura...Hum!(Uma vez ele me seguiu a pé e ficou aguardando na esquina da Brigadeiro com Paulista, quando virei a esquina dei-me de cara com ele, e descemos a Brigadeiro "bicicleta e eu" apanhando). Porém aquela tarde algo estava no ar, uma sensação de que alguma coisa iria acontecer...
Já havia alguns dias, que notava na residência ao lado que também era da família, um certo movimento diferente. Minha mãe disse-me que papai, tinha alugado para uma família de japoneses, cujo patriarca era o Cônsul no Brasil. Eu já havia visto japoneses, principalmente no bairro da Liberdade, onde eles começavam a comprar e alugar residências, deixando claro, que ali seria um reduto forte deles! Mas entre ver e ter contacto existe grande diferença, foi quando tive a ideia de ir pelo portão de ligação aos fundos ver se conhecia alguém. Deu certo, no gramado estava uma japonesinha, vestida com roupas esquisitas com fundo azulado e fortes coloridos lembrando a seda, só que mais grossa. A principio quis esconder-me, mas como tinha feito barulho no portão, a menina virou seu olhar para mim!
Descrever o que aconteceu nos momentos seguintes, é difícil. Foi como uma brisa que atingiu-me no rosto e sussurrou algo em meus ouvidos. Encantei-me com a cor de sua pele "esvaecida" seus olhinhos de uma cor negra que eu nunca tinha visto, usava uma espécie de turbante na cabeça e seus pés estavam descalços, ficamos nos olhando por alguns momentos e depois com a voz entre cortada consegui dizer - Quer brincar? Ficou olhando-me como se eu falasse outra língua! E falava, visto que estava aprendendo português em uma escola, mas ainda não conseguia articular.
Os dias subsequentes, foram de muitas brincadeiras e gestos, pois nossa comunicação era gestual em 98% a gurizada da vizinhança, vinham até em casa para brincarmos de uma série de coisas e para ensinar-mos a menina. Comecei à aprender também um monte de coisas do costume japonês, por exemplo não entrar de calçados dentro da casa eles não tinham cama, dormiam em uma espécie de "Tatami", comiam com pauzinhos(hachi), tinham um "oratório" onde rezavam todos os dias e cultuavam seus antepassados como Deuses.
Uma destas tardes, fim das férias. Houve uma reunião em nossa casa, minha mãe reunia as senhoras da sociedade e planejavam e realizavam bazares e outras ações beneficentes.
Eu e a menina ficamos só a tarde inteira, e depois de muito brincarmos em nossos quintais e acredite tinha coisas para brincar, ela chamou-me para sua casa e entramos em seu quarto, era interessante as divisórias uma madeira fina e bonita e complementadas por papel, que depois vim a saber serem feitos a base de arroz!
Fiquei curioso sobre a cama e deitei para sentir seu conforto e não gostei era duro, sem maciez e
muito fino.(pelo menos eu achava!). Foi ai que aconteceu o inesperado. Ela deitou-se ao meu lado e olhou-me nos olhos e naqueles negros olhos entendi o recado e dei-lhe um beijo na face. Ela ruborizou, mas devolveu-me o beijo também na face, ato seguinte tomei-a em meus braços e beijei sua testa e quando dei por mim, estava beijando seu peito e estávamos nus em cima do tatami. Não sei como eu terei aquele quimono, mas foi a coisa mais rápida que fiz em minha vida...Porém ficamos ali abraçados por longos 20 minutos, sabíamos que era bom, sentíamos que aquilo era sublime, foi minha primeira ereção fiquei assustado, mas e daí? Bateu uma culpa e vergonha, vestimos nossas roupas rapidamente e fomos para minha casa. Ao entrarmos na sala, todos olharam em nossa direção, fiquei paralisado, pareci que todos sabiam! Mas nada! O olhar era de reprovação pois não queriam crianças na sala.
Semana seguinte, meu irmão voltou, mais velho 4 anos, com certeza saberia me explicar alguma coisa. Ah o cara era um sábio! Na primeira oportunidade que ficamos sozinhos, fizemos o que queríamos e não sabíamos...Uns vinte e cinco anos depois, encontramo-nos em Hokaido-Japão em uma reunião da Messiânica mundial...Foram nove semanas e meia de muito amor.
Ah tempos inesquecíveis.
Betho Sides
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
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11 comentários:
Betho, esses pecados e peraltices que todos fizemos quando miúdos e puros, em geral têm o indulto divino e a feição dos peixes-sem-olhos: vivem eternas nas águas límpidas de nossas reminiscências, mas que somente nós as vemos, porque a sentimos ... e como é bom isso! É vida! É luz para os próximos passos da essência do adulto que se é depois...
Parabéns pela belíssima crônica!
abração
Betho, Aqui esta bem melhor pelo menos pra mim...que sou sem ser, rsrsrsrss
Dica: tira essas letinhas...deixa so os comentarios.
Beijos
☺
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Concordo com a Bandys
Esperei tanto tempo para ler algo escrito por você.
Tira as letrinhas sim.
Gostei demais. Histórias assim me fazem fazer um filminho.
abraços
É bom ouvir essas histórias, pode continuar....rsrsrsr - Recordar é viver.....
Feliz casa Novaaaaaaaaaaaaa!!!
Abraço pra vc Sãopaulino!! rsrsrssr
Estamos na área, e se derrubar é penâlti!!!!rsrsrs
Fica com Deus, muita luz pra vc!
Grandes recordações...A vida nos traz muitas alegrias !!!
Oi Betho.
UIA!!! Tá ótimo. Bem melhor aqui que lá... Rssss!!!! Mais leve, pelo menos por enquanto... :-)
Ótima semana para você.
Beijos mil! :-)
Betho,
te vejo sempre lá Loba e resolvi vir aqui conhecer teu espaço. gostei e gostei mais ainda do teu txto, premeado de recordações. Dizem que recordar é viver, acho que é por aí mesmo. E que bom que vc retomou aquela cena interrompida. Isto é algo bem difícil de acontecer, mas aconteceu pra vc. Adorei tudo! Beijos remanescentes
oi betho, q linda história, voltar ao passado,ela era messianica entao,gosto da religiao,sou da sicho no ie,
realmente,parece um filminho na minha cabeça,
olha,tenho os 3 blogs, nao esqueça,
o bruxinha3.zip.net
elane-rebelo.zip.net
e o blogspot.
espero vc mais vezes,gostei
muito do seu estilo de escrever!!parabéns!!!!
Betho,
Li la e comento aqui, rsrsr
Parabéns a fidelidade da Amizade com Balestra.
Bacana ter amigos assim.
Muito legal falar dos amigos como voce fala, e eu to la ne?? hahahaah
Mas voce tambem esta aqui dentro do ☺♥☺
Vou la dar uma lida...
beijos
Tira as letrinhas!!!!!!!! rrsrsrsrsr
Aqui neste espaço percebe-se que vc está mais solto e nostálgico. Nostálgico no sentido de resgatar parte da história da sua vida e isso, eu também adoro fazer, escrever e compartilhar. Tá superlegal seu blog amigo... abaço
muito, muito bom. Gosto de vir aqui.
Tenha uma bela tarde.
maurizio
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